domingo, 21 de outubro de 2012


Sonhos Lindos...  Sonhamos...


Sonhos e mais sonhos desfeitos. Sobre a simples cama de um beliche, restos de um passado recente nos remetiam ao gosto amargo dos que ousaram desafiar a vida de forma inexplicavelmente desnecessária e desrespeitosa. E naquele momento, restou-nos apenas a incerteza de que nada seria como antes. Como nunca foi e nunca será. Em vão, por toda casa, fragmentos de vidas vistos pela rotina. Nossos passos caminhavam ao acaso, pelo descaso de nossas retinas viciadas a enxergar apenas o que compreendíamos como verdade e felicidade. Meio-dia: guardamos na boca o sabor amargo do café servido durante a madrugada que fora a mais longa de nossas vidas; a hora havia chegado... Na alma lembranças que nunca se apagarão por completo. Triste e sombrio. Tampa branca de um caixão sobre a cama, Cheiro forte de flor que insistia em expressar sua indignação, rosto perfeito de anjo enfaixado para esconder a marca de um motivo que nos trouxe a morte... Gritos... Muitos Gritos de dor... Nós que ficamos ouvíamos a cada instante sem entendermos: “Leve-me para longe e perto de você. Leve-me agora para nunca mais voltar!”. Eram Gritos de Mãe... Naquela hora pensei que podíamos confortá-la... Éramos suas filhas... Mas Ela pedia aos Céus que a levasse... Mas e nós!? Quem nos seguraria ao colo quando dele precisássemos!? Hoje, sendo mãe, posso entender sua dor... Entro em pânico diante de uma simples febre de meu filho... Naquela hora, tudo era inexplicável... Por prudência, muita coisa foi mudada... Colocaram-nos para ouvirmos algumas músicas no intuito de esquecermos seu rosto – tudo que nos deixava em paz. Lembranças que nos martelavam e nos deixavam sem chão para executar tarefas rotineiras e comuns surgiam a cada instante em nossas mentes; como por exemplo, varrer e limpar os pequenos cômodos que juntos brincávamos. Sem fôlego, com dor e saudade latente, atravessamos em longos pensamentos os dias incertos, a pensar sobre os caminhos bifurcados que nos rodeavam a partir daquele acontecimento fatídico. Se fosse diferente, horas, diferentes seriam. Mas, a MORTE havia se tornado nossa verdade; ela era a nossa mais pura e dura realidade... Nada mais duvidoso que os dias que se seguem depois dos temporais. Vida e morte; luz e escuridão; céu e inferno. Trajetos opostos, vidas cortadas ao meio e o medo de reinventar o futuro com gestos do passado. Por todos os lados, suas brincadeiras de anjo, sua voz e seus olhos nos acompanhavam a nos torturar. Com muita dor e saudade, ficaram-nos apenas lágrimas condensadas em restos de esperanças projetadas... Restou-nos uma paisagem tatuada na alma que nos queimou como chaga por longos anos incessantemente... Esquecemos as músicas de roda que juntos cantamos, os versos aprendidos na escola que juntos versamos, os pecados e as redenções que vivemos inocentemente... Nossos passos pareciam ancorados no passado... Nossa esperança de um futuro melhor!? Como!? Minha mãe havia perdido seu único e precioso menino... Meu Pai havia perdido seu único e certo companheiro de jornada...  A Esperança!? Pelo jeito encontrava-se estampada em letras garrafais e cores enigmáticas. Em negrito, vi seu lindo nome grafado em muros espalhados pela cidade que havia se pintado de cinza. Sobre o mundo, uma breve lucidez deu vazão à insanidade imposta pelos padrões esquecidos e o gelo do inverno latente pelas palavras esculpidas em bolas de neve. Em cima dos enganos tardios, a novidade consumia litros de saudade. O criminoso seria punido... Para quê!? Gesto que surgia como pontes destruídas e malas desfeitas... As malas dos lindos passeios que faríamos juntos... As malas que nos conduziriam aos cansativos concursos de vestibulares... Depois à mudança certa... Você seria um excelente estudante... Tudo levava a crermos... Eu estaria ali lhe ajudando... Fazia parte de nossos inocentes planos... Não pude tê-lo ao meu lado... Nos meus concursos... Nas minhas provas... Como em tudo que eu estaria com você... Mas, agora, em meu pensar, você corre livre em verdes campos cobertos de Lavandas... Anjos nascem e não Morrem... Surgem em meio ao lilás e azul mais perfumado da face da Terra... Surgem do escuro abstrato das palavras em chamas para trazer a paz e a doçura dos céus...  Que trazem em meio ao vento quentes e vivos versos de esperança como uma brisa matutina em dias de verão... E foi assim... Em um dia ensolarado, fresco e perfumado digno de um lindo dia de primavera... Que Brilhantemente você nasceu... Nasceu em um dia bem mais iluminado que o de hoje... Era 21 de outubro de 1971... O sorriso de um anjo menino abria o Largo sorriso de uma Mãe... A Esperança de um Pai... Os sonhos de uma família... A Fé de uma vovó em acender as chamas que ainda a faziam visualizar as perspectivas de dias melhores...  Hoje continuo sem entender porque precisou partir tão cedo... Mas prefiro me ligar à sua Chegada... Cheia de Luz... Ela me reporta à Vida... À Esperança... À Fé... Que Preciso ter para conduzir meu o meu anjo menino que como você me veio dos Céus... Para a Vida aqui na Terra Alegrar... Você sabe meu irmão o quanto está vivo em meu coração... Em minhas memórias... Em minha Alma! Inverti a ordem dos acontecimentos – é fato. Quero que a SUA LEMBRANÇA VIVA permaneça cada vez mais viva em minhas emoções... Amar-lhe-ei pela Eternidade!

Cleide Arantes.         






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