A ALEGRIA E O PRAZER DO
AROMA
NA ROUPAGEM DA NATUREZA
Há dias em que se tem a impressão de se estar cruzando uma dessas
espessas camadas de fumaça ardida e sufocante – do tipo que nos deparamos pelas
estradas quando “um incendiário criminoso” resolve atear fogo no verde das
matas que desafia o lado obscuro de sua essência que se recusa a ser tão alegre
e criativa quanto à alegria dissolvida em cada tom de verde encontrado na natureza.
Tudo parece sufocar; e o coração fica triste e sem lugar. É a noite escura da
alma que sente o cheiro da morte nas cinzas que aos poucos ocupa lugar no
cenário da vida. Que sentimento estarrecedor! Dizem os entendidos que é a falta
de Deus... Como!? Por que!? O que pode acontecer tão der repente que nos leva a
nutrir tamanha angústia!? Porque se tem tornado tão fácil não lutar pelo
crepitar das chamas que sempre manteve vivo o fogo de nossos sagrados
corações!? A intempestividade com sua “necessidade” de cinzas tem uma força
assustadora que quando quer se manifestar, nem ao menos temos tempo de uma
brasa dela resguardar. Ela chega... Queima o que encontra à vistas... E com a
mesma velocidade com que apontou, desaparece... E foi em um destes dias, que ao
chegar de uma pequena viagem, ao abrir a janela do quarto, uma voz interior me
disse: “Sinta no ar a energia que chega até você junto a este vento... Você
precisa tomar chá de alecrim”. Voltei ao outro quarto; olhei mais de perto... Lá
estava o nosso viçoso pé de alecrim... Confesso que nunca liguei muito para
ele. Minha vizinha tinha mania de servi-lo como chá para todos os males... E eu
já havia feito parte desta lista de atendimentos... Mas, naquele dia, com toda
reverência, meu companheiro colheu alguns ramos, preparou-me um chá e o serviu
em uma linda xícara. O aroma era muito agradável... Parecia haver ali um toque
vindo dos céus... E, a cada gole que bebia, sentia a mente ir clareando. Uma
sensação de bem-estar e alegria passou a ocupar minhas emoções... Foi se
espalhando pelo corpo e por incrível que pareça em um curto espaço de tempo já
estava sentindo uma enorme felicidade no coração... Conseguia me ligar a fatos
que me proporcionavam aquele sentimento...
Impressionante como é a capacidade que esta planta possui de
transmitir alegria!? Aliás, se pararmos para pensar, o nome alecrim já nos lembra
de alegria... E nos reporta à Música Alegre... Que cantava ainda menina... Alecrim Alecrim
Resolvi pesquisar a respeito e – veja só que maravilha! O alecrim –
Rosmarinos officinalis, planta nativa da região mediterrânea – foi muito
apreciado na Idade Média e no Renascimento, aparecendo em várias fórmulas,
inclusive a “Água da Rainha da Hungria”, famosa solução rejuvenescedora. Elizabeth
da Hungria recebeu, aos 72 anos, a receita de um anjo (um monge?) quando estava
paralítica e sofria de gota. Com o uso do preparado, recobrou a saúde, a beleza
e a alegria. O rei da Polônia chegou a pedi-la em casamento! Madame de Sévigné recomendava água de
alecrim contra a tristeza, para recuperar a alegria. Rudolf Steiner afirmava que o
alecrim é, acima de tudo, uma planta calorífera que fortalece o centro vital e
age em todo o organismo. Além disso, equilibra a temperatura do sangue e,
através dele, de todo o corpo. Por isso é recomendado contra anemia,
menstruação insuficiente e problemas de irrigação sanguínea. Também atua no
fígado. E uma melhor irrigação dos órgãos estimula o metabolismo.
O alecrim é digestivo e sudorífero. Ajuda a assimilação do açúcar
(no diabetes) e é indicado para recompor o sistema nervoso após uma longa
atividade intelectual. É recomendado para a queda de cabelo, caspa, cuidados
com a pele, lesões e queimaduras; para curar resfriados e bronquites, para cansaço
mental e estafa; ainda para perda de memória, aumentando a capacidade de
aprendizado.
Existe uma graciosa lenda a
respeito do alecrim: Quando Maria fugiu
para o Egito, levando no colo o menino Jesus, as flores do caminho iam se
abrindo à medida que a sagrada família passava por elas. O lilás ergueu seus
galhos orgulhosos e emplumados, o lírio abriu seu cálice. O alecrim, sem
pétalas nem beleza, entristeceu lamentando não poder agradar o menino. Cansada,
Maria parou à beira do rio e, enquanto a criança dormia, lavou suas roupinhas.
Em seguida, olhou a seu redor, procurando um lugar para estendê-las. “O lírio
quebrará sob o peso, e o lilás é alto demais”. Colocou-as então sobre o alecrim e ele suspirou de alegria, agradeceu
de coração a nova oportunidade e as sustentou ao sol durante toda a manhã. “Obrigada, gentil alecrim” – disse Maria. “Daqui por diante
ostentarás flores azuis para recordarem o manto azul que estou usando. E não
apenas flores te dou em agradecimento, mas todos os galhos que sustentaram as
roupas do pequeno Jesus, serão aromáticos. Eu abençôo folha, caule e flor, que
a partir deste instante terão aroma de santidade e emanarão alegria.” Que coisa maravilhosa esta lenda! Sinto-me mais feliz ainda em
saber que como Maria meu olhar pode alcançar “a beleza do alecrim”. A energia
subliminar projetada com meu olhar buscou no Alecrim o que poderia trazer um
alívio imediato à m’alma! Então vale a pena questionar: De que forma olhamos
para o nosso próximo e para o que nos cerca? Há muito tempo se estudam as propriedades do
olhar humano. É possível observar as consequências
do raio do olhar, quando conjugado com a força do pensamento consciente.
Ele atinge o alvo e o impregna. Um exemplo é o assim chamado “mau-olhado”. O
raio do olhar pode curar, abençoar, regenerar e fazer prosperar. Mas, se
impregnado de inveja, ódio, desconfiança, cobiça, raiva, egoísmo e tantos
outros pensamentos destrutivos, pode até matar. Ao escolher o tipo de pensamento que projetamos com o raio do nosso
olhar, estamos escolhendo entre servir as fileiras do bem ou do mal, entre
cooperar com as forças evolutivas ou as destrutivas. Mas lembre-se bem deste velho ditado: “Quem semeia vento colhe
tempestade”. A energia enviada realiza seu trabalho e depois retorna com força
multiplicada, para quem a projetou.
Cleide Arantes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário