segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

 O DOM DA VIDA EU AGRADEÇO... UMA AMIZADE AINDA RESTA...

Hoje meus pais estariam completando 47 anos de casados. Mas como a vida tem dessas coisas... Difíceis de querer entender porque tomam rumos tão diferentes dos inicialmente pensados... Eles se divorciaram. E como fruto desta união que foi desfeita pelo simples fato de  todo ser humano precisar se conscientizar de que vale a pena procurar viver em harmonia – e não querer em nome de qualquer que seja a religião, causar “danos muito maiores do que já foram causados”, é que agradeço a Deus O DOM DA VIDA DOS MEUS PAIS que continuaram fazendo opção pela permanência dela – sem querer insistir EM ANDAR CONTRA A VONTADE – quem sabe caminhando em direção do próprio funeral ou desejando o funeral do outro. Mais uma vez coloco como reflexão um texto escrito por alguém que expressa através da escrita PENSAMENTOS QUE PRECISAM SER AINDA MUITO MAIS CONHECIDOS... VIAJADOS... PARA QUE O MUNDO POSSA “SE METAMORFOSIAR” por necessidade que brota da alma de QUEM BUSCA SER MELHOR PORQUE SABE QUE PODE e não por livre e espontânea pressão. 

Cleide Arantes. 





DIVÓRCIO

Uma amiga está triste porque está se divorciando. Divórcio é uma palavra tão doída! Aí ela ficou pensando se, nas suas origens, essa palavra não podia ser bonita. Quando a palavra divórcio nasceu, qual era o seu sentido? Que imagens ela invocava? Fui então ao dicionário Webster, que é uma das minhas alegrias. Eu o encontrei num sebo nos Estados Unidos, dois volumes grossos com capas artísticas douradas. Comprei-o por pouco mais que nada. Nele, além dos significados das palavras, encontram-se as suas origens, a etimologia. Os sentidos originais têm o poder de dar vida a palavras mortas, por revelar seus sentidos ocultos. Pois é isso que ele diz, traduzido: “Divórcio: do Latim ‘divortium’, uma separação; de ‘diversus‘, particípio passado de ‘divertere’, que significa ‘ir a direções diferentes‘“. Coisa terrível é caminhar por um caminho pelo qual não se deseja ir. Antigamente era assim: o marido era transferido para um fim de mundo e a mulher era obrigada a ir. Ia contra a vontade, ficava triste, chorava, ficava deprimida, perdia a vontade de fazer amor, e o amor virava ressentimento e ela pensava em silêncio. “Quando ele morrer eu volto para o lugar de onde vim...“ Quem anda por um caminho obrigado, contra a vontade, fica desejando que aquele ou aquela que obriga morra. A liberdade é assassina. Pois o meu pensamento de repente divorciou-se de mim. Divorciou-se: deixou o caminho que eu estava seguindo e embrenhou-se por uma trilha onde estava escrito o nome “Walt Whitman“. Como não quero ficar sozinho, vou atrás dele. Sim, Walt Whitman, o maior de todos os poetas americanos, o poeta do corpo. Antigamente os lares protestantes tinham o hábito do culto doméstico: a família se reunia ao final do dia para ler a Bíblia e orar. Penso que seria desejável que fizéssemos coisa parecida: a família reunida para ler poesia e ouvir música. Meia horinha por dia. Acho que todos ficariam mais mansos e mais sábios. Pois o Walt Whitman escreveu: “Quem anda duzentas jardas sem vontade anda seguindo o próprio funeral, vestindo a própria mortalha...“ Por vezes o divórcio é o jeito de parar de andar contra a vontade, o jeito de não seguir o próprio funeral – e nem desejar o funeral do outro... A gente vai andando por um caminho numa planície. Aí o caminho se bifurca. Encruzilhada. No caminho da direita há uma tabuleta que diz: “Mar“. No caminho da esquerda, uma tabuleta que diz: “Selva“. Um dos caminhantes sente o chamado do mar. O outro sente o chamado da selva. Não é sábio que cada um siga o seu caminho? Está dito nas Sagradas Escrituras: “Como andarão dois juntos se não estiverem de acordo?“ Isso está explicado no livro que escrevi para crianças, A Selva e o Mar.

Rubem Alves.

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