quarta-feira, 16 de janeiro de 2013


RECEITA DE ANO NOVO


Para você ganhar belíssimo Ano Novo 
C
or do arco-íris, ou da Cor da sua paz, 
Ano Novo sem comparação
Com todo o tempo já vivido 
(mal vivido talvez ou sem sentido) 
P
ara você ganhar um ano 
N
ão apenas pintado de novo,
Remendado às carreiras, 
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; 
N
ovo até no coração
Das coisas menos percebidas 
(a começar pelo seu interior) 
N
ovo, espontâneo,
Que de tão perfeito nem se nota, 
M
as com ele se come, se passeia, 
S
e ama, se compreende, se trabalha, 
você não precisa beber champanha
ou qualquer outra birita, 
N
ão precisa expedir nem receber mensagens 
(planta recebe mensagens? 
passa telegramas?) 
Não precisa 
F
azer lista de boas intenções 
P
ara arquivá-las na gaveta. 
Não precisa chorar arrependido 
P
elas besteiras consumadas 
N
em parvamente acreditar 
Q
ue por decreto de esperança 
A
partir de janeiro as coisas mudem 
E
seja tudo claridade, recompensa, 
J
ustiça entre os homens e as nações, 
L
iberdade com cheiro e gosto de pão matinal, 
D
ireitos respeitados, começando 
P
elo direito augusto de viver. 
Para ganhar um Ano Novo 
Q
ue mereça este nome, 
V
ocê, meu caro, tem de merecê-lo, 
T
em de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, 
M
as tente, experimente, consciente. 
É dentro de você que o Ano Novo 
C
ochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade

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