Em conversa com uma jovem que me enumerava suas
dificuldades de convivência com membros de sua família, lembrei-me de uma mensagem que recebi há tempos atrás que me
caiu como uma luva em um momento que estava querendo acreditar no jargão: “Família
é um mal necessário”. Sei que se ela tiver paciência de ler o texto até o
final, se sentirá aliviada e criará coragem para fazer o que é preciso ser
feito – podendo assim, passar muitos outros ótimos dias ao lado de seus
familiares sem “aquele ar de burro” com alguns de seus membros. Como dar o
primeiro passo!? Não pense “no como” – apenas se dirija à pessoa e... Sem
querer querendo... Se permita ser gentil com você mesma e diga o que quiser – me
perdoe, caso seja necessário, é uma boa pedida! Afinal... A Onda do Amor
precisa se expandir... E O MUNDO NÃO PODE ACABAR!
Boa Sorte!
Cleide Arantes.
"Família é prato difícil de preparar."
São muitos ingredientes.
Reunir todos é um problema, principalmente no Natal e no
Ano Novo.
Pouco importa a qualidade da panela, fazer uma família
exige coragem, devoção e paciência.
Não é para qualquer um.
Os truques, os segredos, o imprevisível.
Às vezes, dá até vontade de desistir.
Preferimos o desconforto do estômago vazio.
Vem a preguiça, a conhecida falta de imaginação sobre o que
se vai comer e aquele fastio.
Mas a vida, (azeitona verde no palito) sempre arruma um
jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite.
O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os
lugares.
Súbito, feito milagre, a família está servida.
Fulana sai a mais inteligente de todas.
Beltrano veio no ponto, é o mais brincalhão e comunicativo,
unanimidade.
Sicrano, quem diria? Solou, endureceu, murchou antes do
tempo.
Este é o mais gordo, generoso, farto, abundante.
Aquele o que surpreendeu e foi morar longe.
Ela, a mais apaixonada. A outra, a mais consistente.
E você? É, você mesmo, que me lê os pensamentos e veio aqui
me fazer companhia. Como saiu no álbum de retratos? O mais prático e objetivo? A
mais sentimental? A mais prestativa? O que nunca quis nada com o trabalho? Seja
quem for não fique aí reclamando do gênero e do grau comparativo. Reúna essas
tantas afinidades e antipatias que fazem parte da sua vida.
Não há pressa. Eu espero. Já estão aí? Todas? Ótimo.
Agora, ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e
tome alguns cuidados. Logo, logo, você também estará cheirando a alho e cebola.
Não se envergonhe de chorar. Família é prato que emociona. E a gente chora
mesmo. De alegria, de raiva ou de tristeza.
Primeiro cuidado: temperos exóticos alteram o sabor do
parentesco.
Mas, se misturadas com delicadeza, estas especiarias, que
quase sempre vêm da África e do Oriente e nos parecem estranhas ao paladar tornam
a família muito mais colorida, interessante e saborosa.
Atenção também com os pesos e as medidas.
Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto, é um
verdadeiro desastre. Família é prato
extremamente sensível.
Tudo tem de ser muito bem pesado, muito bem medido.
Outra coisa: é preciso ter boa mão, ser profissional.
Principalmente na hora que se decide meter a colher. Saber
meter a colher é verdadeira arte. Uma grande amiga minha desandou a receita de
toda a família, só porque meteu a colher na hora errada.
O pior é que ainda tem gente que acredita na receita da
família perfeita. Bobagem. Tudo ilusão.
Não existe Família à Oswaldo Aranha; Família à Rossini,
Família à Belle Meuni; Família ao Molho Pardo, em que o sangue é fundamental
para o preparo da iguaria.
Família é afinidade, é à Moda da Casa.
E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito.
Há famílias doces. Outras, meio amargas. Outras
apimentadíssimas.
Há também as que não têm gosto de nada, seria assim um tipo
de Família Dieta, que você suporta só para manter a linha.
Seja como for, família é prato que deve ser servido sempre
quente, quentíssimo. Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir.
Enfim, receita de família não se copia; se inventa.
A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e
transmitindo o que sabe no dia a dia.
A gente cata um registro ali, de alguém que sabe e conta, e
outro aqui, que ficou no pedaço de papel.
Muita coisa se perde na lembrança.
Principalmente na cabeça de um velho já meio caduco como
eu.
O que este veterano cozinheiro pode dizer é que, por mais
sem graça, por pior que seja o paladar, família é prato que você tem que
experimentar e comer.
Se puder saborear, saboreie. Não ligue para etiquetas.
Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na
louça, no alumínio ou no barro. Aproveite
ao máximo.
Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se
repete."
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