Ignorar
as Ameaças que o Futuro encerra!?
“A
impressão que eu tenho é de não ter envelhecido embora eu esteja
instalada na velhice. O tempo é irrealizável. Provisoriamente, o
tempo parou pra mim. Provisoriamente. Mas eu não ignoro as ameaças
que o futuro encerra, como também não ignoro que é o meu passado
que define a minha abertura para o futuro. O meu passado é a
referência que me projeta e que eu devo ultrapassar. Portanto, ao
meu passado eu devo o meu saber e a minha ignorância, as minhas
necessidades, as minhas relações, a minha cultura e o meu corpo.
Que espaço o meu passado deixa pra minha liberdade hoje? Não sou
escrava dele. O que eu sempre quis foi comunicar da maneira mais
direta o sabor da minha vida, unicamente o sabor da minha vida. Acho
que eu consegui fazê-lo; vivi num mundo de homens guardando em mim o
melhor da minha feminilidade. Não desejei nem desejo nada mais do
que viver sem tempos mortos".
Trecho
da Peça VIVER SEM TEMPOS MORTOS, inspirada na correspondência de
Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre, com Fernanda Montenegro.
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