sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

MOMENTO  DO  DESABROCHAR

Lembro-me de uma manhã em que havia descoberto um casulo na casca de uma árvore, no momento em que a borboleta rompia o invólucro e que se preparava para sair. Esperei bastante tempo, mas estava demorando muito e eu estava com pressa. Irritado, curvei-me e comecei a esquentá-lo com meu hálito. Eu o esquentava impaciente e o milagre começou a acontecer diante de mim a um ritmo mais rápido que o natural. O invólucro se abriu e a borboleta saiu se arrastando. Nunca hei de esquecer o horror que senti então: suas asas ainda não estavam abertas e com todo o seu corpinho que tremia, ela se esforçava para desdobrá-las. Curvado por cima dela eu a ajudava com meu hálito. Em vão. Era necessária uma paciente maturação e o desenrolar das asas devia ser feito lentamente ao sol. Agora era tarde demais. Meu sopro obrigara a borboleta a se mostrar amarrotada antes do tempo. Ela se agitou desesperadamente e algum segundo depois morreu na palma da minha mão. Aquele pequeno bichinho é para mim, eu acho, o peso maior que tenho na consciência. Pois hoje, entendo bem isso, é pecado mortal forçar as grandes leis. Temos que não nos apressar, não ficar impaciente e seguir com confiança o ritmo eterno.

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