terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Antônio Roberto fala sobre “O Ciúme”


As pessoas sofrem muito quando o parceiro se dirige a outra direção que não seja aquela em que estão. A sensação iminente de infidelidade tomou conta da maioria dos relacionamentos. Isso explica o enorme controle existente entre os casais. O tempo conjugal, que deveria ser preenchido pelo prazer e divertimento é tomado por perguntas incessantes, por vasculhamento de celulares, por procura de indícios de traição e por hostilidades. É impressionante como as pessoas não confiam no sentimento do amor. O ciúme, mais que desconfiança na outra pessoa, é um descrédito na capacidade que temos de nos unirmos a outra através do amor. Na vivência do ciúme o parceiro deixa de ser o objeto de prazer e passa a ser um possível causador de decepção e sofrimento. Onde há ciúme não há paz. O relacionamento se torna tenso e a tentativa de controlar um ao outro estabelece um clima de acusações e de insatisfação constante. O raciocínio ciumento é exclusivista. Ele é alimentado por duas crenças fundamentais falsas. A primeira é a crença da posse no amor. É como se as pessoas se pertencessem. Como se fôssemos donos uns dos outros. E como donos, queremos que o outro se comporte da maneira que nos interessa e que seu comportamento resolva nosso medo de perder. Ao invés de trabalharmos nossas inseguranças infantis, nossa autoestima, nossa falta de vida própria, queremos mudar o outro para não nos sentirmos ameaçados. Essa mudança inclui o exaustivo controle sobre os horários de nossos parceiros, seus passos diários e todas as suas relações. É comum aos casais, por exemplo, monitorarem as amizades do parceiro, levando-os a se afastarem das antigas amizades ou mesmo da família. A outra crença falsa é que, se há amor, as pessoas se bastam e que o casamento ou o namoro preencheria todas as necessidades das pessoas envolvidas e que, por isso mesmo todos os seus interesses fora da relação não teriam sentido. A verdade é outra. Faz parte da condição humana a incompletude. A consequência disso é que ninguém é de ninguém e ninguém preenche alguém totalmente. Os desejos humanos são ilimitados e os nossos interesses são, por causa disso, múltiplos e contínuos. A relação afetiva e o amor não podem fechar nossa vida para as amizades, o trabalho, o lazer, a arte e o social. Por outro lado, devemos acreditar mais na força do amor. Uma relação verdadeiramente amorosa não pode ser vista com essa fragilidade com que a vemos normalmente. Se há admiração, respeito, afeto e alegria, a confiança se estabelece. É bom salientar que confiança não é ter certeza de que não se será traído. Confiança é despreocupar-se com o futuro, com o que pode acontecer e viver com intensidade o relacionamento no momento presente. Um relacionamento se torna sólido, não através da possessividade e da admiração, mas através da vivência do amor e do companheirismo. Desejar o crescimento do outro, facilitar o atendimento de suas necessidades em busca da alegria, folgar-lhe a vida, não implicar com suas diferenças, não ser empecilho na sua expansão diante das outras pessoas, são os principais ingredientes para não perder o parceiro. Casamento ou namoro não é ficar olhando um para o outro, mas ambos olharem na mesma direção: olhando em direção ao mundo, à alegria e à construção de novos interesses e de novas realizações.

 Antônio Roberto

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