Dia 28 de setembro, ouvimos a uma palestra de Frei Beto, no Auditório da UFTM. Estarei fazendo aqui, No decorrer desta escrita, “a minha interpretação; a minha leitura pessoal do que ouvi”. Há um velho ditado que afirma: “quem conta um conto, acrescenta um ponto”. Espero não cometer este pecado. Mesmo porque, acrescentar algo, desviando o tema da ideia principal, diante da grandiosidade do que foi dito no contexto, que narra conclusões de Experiências de Vida que se viveu, que se sentiu, que se estudou e que se compartilhou, seria um crime! Que minha leitura, caro leitor, lhe dê condições, de apreender ao máximo, o que Frei Beto quis nos passar.
Ele é Realmente Espetacular! A leitura de seus escritos permeou minha vida nos tempos de adolescente, já com vivências auditivas em minha comunidade desde as aulas de catequese, quando menina, entre 1973 a 1975 até as formações dos “grupos eclesiais de base”, por volta dos anos de 1980 e 1981 em diante, na cidade em que nasci, através de “dinâmicas de trabalho” de duas pessoas extraordinárias: Thomas Mcgrath e Martin Joseph Byrne – Que Liam, comentavam a vida de Frei Beto, e procuravam aplicar muitos de seus ensinamentos, refletir muitas de suas ideias – que brotaram em meio a um cárcere, em meio a estupidez e desumanidade de “alguns humanos” pois, acabava de sair da prisão. Foram eles, Thomas e Martin meus Primeiros exemplos de Esperança e Fé a Defender a ideia da propagação de outro sistema social que não o capitalismo; a propagar a ideia de “que é possível Semear A Semente Da Vida em Comunidade – mesmo sendo filhos de uma sociedade capitalista, cada vez mais egoísta e empanturrada em condicionamentos, viciada em atos preconceituosos de um mundo em que a abolição da escravatura proclamada ainda nos reserva o direito de vivê-la sofisticadamente e Normalmente, sem motivos para se ter insônia... Que é possível Transformar, porque podemos transcender”.
Na abertura dos trabalhos, compondo a mesa,
Estavam presentes um de seus companheiros e representantes da Ordem dos Dominicanos que fez uma abordagem rápida sobre “a vinda das Domenicanas e Domenicanos para Uberaba”.
A seu lado estava a professora coordenadora dos assuntos comunitários da UFTM. Frei Beto Com Suas Notas Características de Simplicidade e Sabedoria, na palestra realizada, passou “seu recado”, de forma Brilhante, descontraída e gostosa! Começou enfatizando a importância de nos conhecermos em profundidade usando as ferramentas que estão constantemente à nossa disposição para que possamos estar bem conosco mesmo “ecologicamente Falando. Falou e Leu Texto do seu Livro: “a Arte de Semear Estrelas”; que é Uma Verdadeira obra poética que nos faz mergulhar na subjetividade Humana. É um livro que trata também de Amor, encontros e desencontros; que fala das evocações que marcam nosso inconsciente. Iniciou a Palestra, lendo um de seus textos maravilhosos, que estará na íntegra, logo abaixo.
Fez uma pequena viagem na história, procurando nos situar, no tempo e no espaço, enumerando “as consequências e os pontos de “esteio” da grande Mudança de Época que aconteceu do Período Medieval, em que a Aste Principal de toda a sua Estrutura, estava alicerçada NA FÉ – para o Período Moderno onde as estruturas se embasavam e se pautavam no USO DA RAZÃO” – Assim situado, partimos para entender melhor “qual o tipo de mudança por que passa a humanidade” na atualidade – Já que deixamos a Época da Modernidade e ainda não atingimos a Margem da Pós Modernidade; Questionou ainda por quais motivos se torna bem mais fácil para os Artistas e os Loucos Sentirem e Perceberem que estão começando a fazer parte de uma Nova Época – citou o exemplo de Edmond Halley, Leonardo Da Vinci, dentre outros, chegando, agora, a levantar uma questão que passou a fazer parte de nossos questionamentos e continuará fazendo parte de nossos dias, ao término da palestra: – Qual será o Paradigma da Pós Modernidade? Será “O MERCADO”? Que se torna dia a dia UM ENTE VIVO? Que levanta com ele a bandeira de uma Grande Preocupação – Pois “tudo está se Marcantilizando”. Onde iremos chegar? O que Procuramos? Onde estamos Procurando? Perdemos a naturalidade de “cultivarmos nossos sonhos” – sonhando sozinhos ou em grupo; passamos do tempo da “crise de Utopia”; Crise que alimentava nossos sonhos. Hoje, A Família está em Crise – Crise do modelo de União. Estamos deixando de lado o respeito à nossa singularidade e à singularidade do outro. Esquecemos que existem dimensões do Amor a que devemos nos Ligar, para nos sentirmos harmonizados, nos sentirmos felizes; que precisamos uns dos outros para tentar ser cada vez mais humanos. Esquecemo-nos que o Caminho da Felicidade está Na Via do Absoluto – e não na Via do Absurdo – que nos faz distanciar do verdadeiro caminho que precisamos percorrer – a COMEÇAR com a nossa EXPERIÊNCIA DO SILÊNCIO. Será que conseguimos ficar a sós com nós mesmos? Ou precisamos ligar a TV, o Rádio, a máquina de lavar, o computador, porque não conseguimos ouvir e até chegamos a ter medo dos gritos de nossas entranhas? Citou um exemplo de “Mimetismo Social” através de uma parábola que contou de uma Senhora que se “agachou na Rua de um comércio ao Ar Livre, à Procura de Algo, e muitos se aproximaram dela, começando a olhar para o chão e procurar também, sem saber o real motivo por que estavam ali; até o momento em que uma das pessoas a perguntou: o que a Senhora Procura? Ela respondeu: uma Agulha; olharam assustados e indignados para ela, dizendo que ela era louca – já que ali poderiam ser encontradas centenas de agulhas que podia comprar, por um preço insignificante; muitos foram embora; outros então puderam ouvir quando ela disse – perdi uma agulha de ouro. Os que estavam ali voltaram a procurar. Procuraram... Procuraram... Até que alguém teve a iniciativa de perguntar onde seria “o provável lugar em que ela deixou cair a tal agulha” e se ela teria uma indicação aproximada do lugar que a perdeu. A mulher calmamente respondeu: A perdi em casa. Todos ficaram assustados com a resposta dela e a perguntaram: mas porque a senhora procura aqui fora, sabendo que a perdeu lá dentro!? Estou fazendo como vocês, ao sair à procura da Felicidade”. Esta parábola é um dos mais simples exemplos do que infelizmente é o que na realidade nos acontece – Prova está que Distanciamo-nos do “exercício da Espiritualidade em nossas Vidas”; o que não pode ser confundido com a mera definição do distanciamento da Religião. Citou o exemplo de Sócrates que viveu entre os anos 470 e 399 aC que era profundamente espiritualizado, embora destituído de Religião e contou que Sócrates, passeando pelas ruas de Atenas e assediado por vendedores, respondia: “Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz”. Fez várias comparações entre a Espiritualidade e a Religião, deixando-nos claro a ideia de que A Religião carrega em seu bojo, Regras que nos distancia da Verdadeira Espiritualidade. Afirma Frei Beto: “Sou um católico que todo dia rezo para que Deus me dê à graça de me converter a ser cristão e que, sendo cristão, eu seja humano. Conheço muitos católicos que não são cristãos e muitos cristãos que não são humanos. Na verdade, não existem valores cristãos ou evangélicos. Existem valores humanos que as tradições religiosas realçam para que criemos juízo. Amar, ter compaixão, ser solidário com o pobre, isso é humano. Não é cristão, budista, judaico ou islâmico”. Então, Por que abafar a espiritualidade!? Por que não podemos mais discutir em uma roda de amigos, sobre assuntos sadios? Não podemos sentar com nossos filhos para bater um papo amigável ou ainda sermos solidários com os vizinhos nos colocando à disposição para a realização de atos fraternos? Por que não podemos mais fazer oração em família? É papo careta? Está fora de moda? Pedir colo para Deus e resgatar em nossas Almas nossas qualidades já não é mais possível? Só podemos pedir arrego ao Terapeuta? E quem não puder pagar para ser ouvido? PRECISAMOS REDESCOBRIR NA ESPIRITUALIDADE SUA DIMENSÃO CONSTITUTIVA, que pode ou não ser usada em nosso próprio benefício. COM ELA PODEMOS TRANSCENDER – não permitindo que nossos desejos prevaleçam sobre nossos ideais. Precisamos voltar a explorar a nós mesmos, de explorar nossas dimensões desconhecidas – em busca do que Verdadeiramente nos dará o sentimento de Realização e Plenitude. Vemos, contudo que o próprio processo de busca já é o nosso processo de transcendência – por isso, e muito mais é preciso que repensemos nossos Valores e nos coloquemos em posição de nos permitirmos discernir nossas opções, mergulharmos no mais profundo de nós mesmos, abraçando pelo lado avesso da vida, de forma grandiosa, a sedutora paixão pelo transcendente – em conecção com o UNIVERVO DIVINO, em toda sua Magnitude, superando os simples e pobres desejos de nosso ego – pois Ser humano é lutar pela plenitude da vida de todos e todas e defender a vida de todo planeta; puro e simplesmente por estarmos todos incluídos e caracterizados dentro de uma mesma condição: Temos Dúvida, SOMOS HUMANOS – somos Frágeis – e onde há dúvida, há busca pela transcendência...
Com a diferença de podemos seguir “nosso coração” e interpretar nossa realidade de acordo com nossa singularidade – respeitando a singularidade do outro na nossa vivência comunitária.
Frei Beto conclui a Palestra, lendo “um texto jocoso” das diversas “interpretações e representações da história Chapeuzinho Vermelho”, que nos Chama a atenção para o fato de que está passando da hora de nos despirmos do lobo que “vez ou outra nos vestimos”, ao sairmos de nossos lares ao encontro do “SR. MERCADO”, tornando-nos competitivos, mecanizados, massificados e massificadores, famintos sem fome e estranhos a nós mesmos – quem dirá à nossos filhos, netos, companheiros, familiares e amigos. Precisamos Reencontrar nossa Própria Humanidade – antes que nossa realidade ilusória nos afogue em nossos isolados devaneios – por termos carregado durante uma vida a bandeira da normalidade diante de tantos atos anormais vividos por nós sem nos apercebermos diante de nossos semelhantes – chegando ao ponto de não identificarmos o lobo, quando ele nos apresenta vestido de vovozinha. Precisamos nos apropriar da realidade que nos circunda e abrir os braços e os corações aos nossos semelhantes como forma de Romper com a normalidade que nos torna em frações de segundos, vorazes lobos à procura de Bens Simbólicos que determinem Nossos Falsos Valores. Que Amando Deus sobre todas as coisas, possamos amar o próximo como a nós mesmos.
Cleide Arantes – com transcritos e interpretações pessoais da fala de Frei Beto.
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