sábado, 29 de novembro de 2014


O Dever Esquecido


Certo rei muito poderoso, sendo obrigado a longa ausência, tomou de grande fortuna e entregou-a ao filho, confiando-lhe a incumbência de levantar grande casa, tão bela quanto possível. Para isso, o tesouro que lhe deixava nas mãos era suficiente. Acontece, porém, que o jovem, muito egoísta, arquitetou o plano de enganar o próprio pai, de modo a gozar todos os prazeres imediatos da vida. E passou a comprar materiais inferiores. Onde lhe cabia empregar metais raros, utilizava latão; nos lugares em que devia colocar o mármore precioso, punha madeira barata, e nos setores de serviço, em que a obra reclamava pedra sólida, aplicava terra batida... Com isso, obteve largas somas que consumiu desorientado, junto de amigos loucos. Quando o monarca voltou, surpreendeu o príncipe abatido e cansado, a apresentar-lhe uma cabana esburacada, ao invés de uma casa nobre. O rei, no entanto, deu-lhe a chave do pequeno casebre e disse-lhe, bondoso: A casa que mandei edificar é para você mesmo, meu filho... Não me parece a residência sonhada por seu pai, mas devo estar satisfeito com a que você próprio escolheu... Após ligeira pausa, Veloso advertiu: O conto impele-nos a judiciosas apreciações, quanto ao cumprimento exato de nossos deveres. Comparemos o soberano a Deus, nosso Pai. O príncipe da história poderia ter sido qualquer um de nós. A fortuna para construirmos a moradia de nossa alma é a vida que Deus nos empresta. Quase sempre, contudo, gastamos o tesouro da existência em caprichosa ilusão, para acabarmos relegados, por nossa própria culpa, aos pardieiros apodrecidos do sofrimento. Mas, aqueles que se consagram à bênção do dever, por mais áspero que seja, adquirem a tranquilidade e a alegria que o Supremo Senhor lhes reserva, por executarem, fiéis, a sua divina vontade, que planeja sempre o melhor a nosso favor.

MEIMEI

 

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