quarta-feira, 31 de outubro de 2012



FLORINHA DO BREJO


Sou bruxa!
Adivinho meus quereres,
Vejo-os, decodifico-os...
Saio de minhas dores,
Com poções mágicas de vida,
De confiança.
Sou fraca, forte, mulher!
Sou bruxa!
Tento enfeitiçar você,
Com olhar de cumplicidade,
Com palavras de vontade,
Com zelo de tudo.
Voo também!
Aposentei a vassoura,
Quebrei o paradigma,
Larguei o velho livro de feitiços,
Abri novo caminho,
Nova página...
Viajo no pensamento,
Na mais bonita estrela,
Na transferência da presença.
Sou bruxa do bem!
Do bem querer-lhe,
Bem amar,
Bem desejar,
Bem estar,
Sua bruxinha, Sua Florinha!
Transponho distâncias,
Materializo-me,
Faço-me ouvir,
Voz e sentir...
Alguém tem medo de mim?
Só porque sou Bruxa!?
“O universo é meu caminho; o amor, a minha lei; a paz, o meu abrigo. A experiência, a minha escola; a dificuldade, o meu estímulo; o obstáculo, a minha lição; a Sabedoria, meu objetivo; a compreensão, minha benção; o equilíbrio, minha atitude; a perfeição, minha meta; a plenitude, meu destino.” " Não ande atrás de mim, talvez eu não saiba liderar. Não ande na minha frente, talvez eu não queira segui-lo. Ande ao meu lado para que possamos caminhar juntos."


"Hoje, ser bruxa,
Mágica, feiticeira,
Já é um Luxo.
Bruxa já não usa vassoura
E caldeirão,
Hoje é cartomante
Viaja de avião,
Vai comer ao restaurante
Mariscos e leitão.
Os seus andrajos
E trapos eram vê-los…
Ela hoje vai a Paris
E veste os melhores modelos.
Abóboras? Bolas de cristal?
Não senhor!
Hoje a bruxa é internauta,
E usa computador.
Abracadabras e tramas
Estão obsoletos...
Já tem modernos programas.
O mau-olhado
E a varinha de condão?
Trocou por um teclado.
A bola de cristal?
Não senhora!
Tem scaner e impressora.
As bruxas sempre serão eternas
Mas as de hoje
São bruxas modernas..."
"Eu sou uma bruxa básica
Faço magias do dia a dia
Gosto de fazer travessuras
O meu lema é espalhar a alegria
Pego a vassoura encantada
E saio varrendo as tristezas
Queimo tudo no caldeirão
E vou apreciar, da vida, as belezas,
Como toda boa bruxa,
Eu adoro a natureza.
O verde, as flores e o azul do céu
Com fitas em tons de violeta
Eu adorno o meu chapéu.
Meus encantos e sortilégio
São feitos com amor e paz
Têm o pó mágico da esperança
Quebre este encanto se for capaz!
Tenho muitas irmãs e irmãos
Eu sou parte do universo
Saúdo a todos os bruxos e bruxas
Nas linhas deste meu verso.
Bruxas e bruxos de todos os tempos
Convoco-os ao círculo das mãos
Vamos orar pelo Planeta
Pedindo a Paz, o Amor e a União"


"Acredito na força da Mãe Natureza, na magia dos elementais que a protegem, em como o mundo necessita das duas forças unidas e em equilíbrio para se manter saudável sem nem a força feminina (Lua) nem masculina (Sol) se sobreporem uma à outra. Entristece-me tanta ignorância e principalmente as mulheres acharem que para se vingar é preciso ser como os homens quando na verdade nós somos diferentes. Somos energias diferentes e cada um pode fazer por si e pela Mãe Terra o que pode consoante a sua energia. Devem complementar-se e não anular-se uma à outra... "

Espero e Desejo Paz e Bem ao Universo!

Florinha do Brejo.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012


Sonhos da menina

  
 A flor com que a menina sonha
 está no sonho?
 ou na fronha?  

Sonho
 risonho: 
O vento sozinho
 no seu carrinho.  

De que tamanho
 seria o rebanho?  

A vizinha
 apanha
 a sombrinha
 de teia de aranha . . .  

Na lua há um ninho
 de passarinho.  

A lua com que a menina sonha
 é o linho do sonho
 ou a lua da fronha?

 Cecília Meireles.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012



Filho da floresta, água e madeira


 Filho da floresta,
 água e madeira
 Vão na luz dos meus olhos,
 e explicam este jeito meu de amar as estrelas
 e de carregar nos ombros a esperança.

 Um lanho injusto, lama na madeira,
 a água forte de infância chega e lava.

 Me fiz gente no meio de madeira,
 as achas encharcadas, lenha verde,
 minha mãe reclamava da fumaça.

 Na verdade abri os olhos vendo madeira,
 O belo madeirame de itaúba
 da casa do meu avô no Bom Socorro,
 Onde meu pai nasceu
 e onde eu também nasci.

 Fui o último a ver a casa erguida ainda,
 Íntegros os esteios se inclinavam,
 morada de morcegos e cupins.

 Até que desabada pelas águas de muitas cheias,
 A casa se afogou
 num silêncio de limo, folhas, telhas.

 Mas a casa só morreu definitivamente
 quando ruíram os esteios da memória
 de meu pai,
 neste verão dos seus noventa anos.

 Durante mais de meio século,
 Sem voltar ao lugar onde nasceu,
 a casa permaneceu erguida em sua lembrança,
 As janelas abertas para as manhãs
 do Paraná do Ramos,
 a escada de pau-d’arco
 que ele continuava a descer
 para pisar o capim orvalhado
 e caminhar correndo
 pelo campo geral coberto de mungubeiras
 até a beira florida do Lago Grande
 onde as mãos adolescentes aprendiam
 os segredos dos úberes das vacas.

 Para onde ia, meu pai levava a casa
 e levava a rede armada entre acariquaras,
 Onde, embalados pela surdina dos carapanãs,
 Ele e minha mãe se abraçavam,
 cobertos por um céu insuportavelmente
 estrelado.

 Uma noite, nós dois sozinhos,
 Num silêncio hoje quase impossível
 nos modernos frangalhos de Manaus,
 meu pai me perguntou se eu me lembrava
 de um barulho no mato que ele ouviu
 de manhãzinha clara ele chegando
 no Bom Socorro aceso na memória,
 depois de muito remo e tantas águas.

 Nada lhe respondi. Fiquei ouvindo
 meu pai avançar entre as mangueiras
 na direção daquele baque, aquele
 baque seco de ferro, aquele canto
 de ferro na madeira — era a tua mãe,
 os cabelos no sol, era a Maria,
 O machado brandindo e abrindo em achas
 um pau mulato azul, duro de bronze,
 Batida pelo vento, ela sozinha
 no meio da floresta.

 Todas essas coisas ressurgiam
 e de repente lhe sumiam na memória,
 Enquanto a casa ruína se fazia
 no abandono voraz, capim-agulha,
 e o antigo cacaual desenganado
 dava seu fruto ao grito dos macacos
 e aos papagaios pândegas de sol.

 Enquanto minha avó Safira, solitária,
 Última habitante real da casa,
 acordava de madrugada para esperar
 uma canoa que não chegaria nunca mais.

 Safira pedra das águas,
 Que me dava a bênção como
 Quem joga o anzol pra puxar
 um jaraqui na poronga,
 Sempre vestida de escuro
 a voz rouca disfarçando
 uma ternura de estrelas
 no amanhecer do Andirá.

 Filho da floresta, água e madeira,
 Voltei para ajudar na construção
 do morada futura. Raça de âmagos,
 Um dia chegarão as proas claras
 Para os verdes livrar da servidão

Thiago de Mello.